Responsabilidade socioambiental: um conceito que esbanja modernidade. Contudo...

A responsabilidade socioambiental é um conceito que esbanja modernidade. Contudo, o tema não recebe a devida atenção por parte dos mandatários e da sociedade como um todo. Pouco suscitado nos debates acadêmicos, o assunto também é de difícil aplicação na prática. Para que se possa debater e levar em conta as questões ambientais, muitas vezes é preciso superar conflitos e enfrentar interesses econômicos. Para vencer a queda de braço com o capital, a consciência das pessoas quanto à preservação da natureza é fundamental para ensejar as transformações sob a ótica do desenvolvimento sustentável.

A conscientização ambiental dos indivíduos, tanto pela via da educação como da informação, auxilia no estímulo a mudanças de mentalidade, valores e comportamentos. A participação de empresas, de órgãos públicos, de escolas e de ambientalistas se torna cada vez mais necessária, sendo de importância capital no fomento de políticas e gestão voltadas a essa área. A mídia, por outro lado, desempenha um papel comercial e quase sempre associa o consumo excessivo ao bem-estar coletivo e individual, sendo que a criança é um dos principais alvos desse marketing.

Mesmo que haja uma gestão cuidadosa e responsável do meio ambiente, não existe impacto zero. Para isso, é necessário adotar medidas de modo a compensar as “pegadas ambientais”1, tais como o reflorestamento de regiões devastadas com o objetivo de recuperar as nascentes, as matas ciliares e as reservas florestais. Essas medidas nada mais são do que conservar bens e serviços ambientais que, distintos de bens e serviços transacionados no mercado, são recursos renováveis, não-rivais e não-excludentes. Os meios de comunicação também precisam ter mais comprometimento com o meio ambiente, assim como informar a sociedade sobre os benefícios decorrentes do cuidado com a biosfera do planeta.

Nsociedade moderna, o status de um indivíduo é determinado pela capacidade de consumir. O consumo além das necessidades, uma espécie de vício propagado, que a propaganda o motiva e o faz uma medida de reconhecimento social. Para incentivar o consumo de massas, as empresas criam mecanismos para reduzir a vida útil de um produto, a chamada “obsolescência programada”. Assim, como os produtos são descartados numa velocidade impressionante, mais resíduos são jogados no meio ambiente como se este pudesse absorver todo o lixo produzido pela sociedade.

A crise que o mundo está vivendo não é ambiental, mas civilizatória, ética, moral e espiritual. Para Berna (2011, p. 3), “a crise se baseia num sistema de superexploração dos recursos naturais fundamentado no princípio do crescimento crescente e ilimitado, em larga escala, com a falsa ideia de que o Planeta é uma propriedade da espécie humana e seus recursos são inesgotáveis”. Pois bem, o impacto também é percebido no âmbito social, com a superexploração do trabalho humano e as desigualdades. Ainda nessa seara, o PIB não é uma boa medida de desenvolvimento e bem-estar social, pois negligencia questões que envolvem o meio ambiente, as externalidades2 e a satisfação dos indivíduos no meio social. Esse indicador precisa ser substituído por medidas que considerem a sustentabilidade e a condição social, tais como a distribuição de renda. O sistema atual é baseado na produção em larga escala e tem todo o suporte da mídia.

Um problema bastante difícil é buscar uma solução que seja comum a todos. A sociedade e os capitalistas são avessos a mudanças e, por isso, se acomodam e não abrem mão dos benefícios. Para haver mudanças reais é necessário que alguém perca no jogo de classes, pois a política de conciliação tende apenas a resolver as mazelas superficiais, não indo, portanto, a fundo na questão-chave do problema. Uma análise profunda e minuciosa do meio ambiente não se limita apenas às questões ambientais, mas também envolve problemas comportamentais, éticos e sociais. A mudança de postura dos indivíduos com certeza será benfazeja na conservação ambiental. No entanto, é uma quimera acreditar que no curto prazo todos serão levados a respeitar espontaneamente os bens da natureza, pois ninguém é igual e tem diferentes objetivos. Por isso, é necessário também maior rigor nas leis e punição para aqueles que as infringe.

As políticas de gestão e responsabilidade ambiental vão ao encontro de um conceito definido como “hipótese de Porter”, que segundo May (2010, p. 211) significa que “as empresas respondem às regulamentações com inovações, melhorando a competitividade”. Assim sendo, as empresas vão adotar cada vez mais tecnologias limpas e terão um sistema de gerenciamento de resíduos com melhor aproveitamento dos recursos. Contrapondo, portanto, a argumentação neoclássica de que as regulamentações ambientais aumentariam os custos do setor empresarial, aumentando preços e reduzindo a competitividade.

Os instrumentos de política ambiental para alcançar a sustentabilidade são os de comando-e-controle, os econômicos e os de comunicação. Entre os instrumentos de comando-e-controle destacam-se o controle ou proibição de produto, o controle de processo, a proibição ou restrição de atividades, as especificações tecnológicas, o controle do uso de recursos naturais e os padrões de poluição para fontes específicas. Entre os principais instrumentos econômicos estão: as taxas e tarifas, os subsídios, os certificados de emissão transacionáveis e os sistemas de devolução de depósitos. Por último, os instrumentos de comunicação compreendem o fornecimento de informação, os acordos, a criação de redes, o sistema de gestão ambiental, os selos ambientais e o marketing ambiental. Estes instrumentos conscientizam a população e a estimula sonhar alto para buscar as mudanças que garantam um consumo consciente e um desenvolvimento sustentável.

A crise supracitada tem profundas ligações com o conceito de mundo cheio, que significa que o subsistema econômico atua sem limites e compromete o funcionamento do sistema como um todo, levando-o a uma série de dificuldades. Para os neoclássicos, a economia funciona num regime de fluxo circular do valor de troca, sendo assim um sistema fechado, autossuficiente e que reaproveita perfeitamente os rejeitos. No entanto, não é mais moderno esse raciocínio, dado que está provado que a economia não tem recursos próprios e compartilha matéria e energia com o ambiente em sua volta. Algo que merece bastante atenção é o fato de que no universo (um sistema isolado) a entropia (leia-se desordem) aumenta, sendo que na Terra (sistema fechado) a entropia tende a ser ainda mais acelerada, já que o planeta recebe apenas energia e é isolado materialmente, ou seja, não recebe matéria do espaço; com raras exceções (por exemplo: queda de meteorito).

A necessidade de mudança para outro sistema econômico, bem como de adotar tecnologias limpas e incentivar as empresas a seguir esses novos paradigmas, é urgente. A existência de um Estado que aplique e regulamente a todo rigor a política e a legislação ambiental constitui uma medida importante, de forma a conservar os bens públicos e a natureza. Os pilares da mudança para a sustentabilidade é a informação, a educação, o incentivo às boas práticas ambientais e a punição para aqueles que desobedecem as regras. Por fim, para que tudo isso se efetive, é essencial que todos sonhem juntos, pois uma mudança real para a sustentabilidade, ainda que leve muito tempo, requer um esforço coletivo. A única esperança de futuro para as próximas gerações.

Notas:

1 – Ações humanas aplicadas ao meio ambiente durante a exploração dos recursos naturais.

2 – São custos ou benefícios (sociais ou ambientais) decorrentes, por exemplo, de uma atividade fabril que, por sua vez, não são considerados como custos e benefícios pela fábrica. Um exemplo de externalidade negativa é de uma fábrica que polui o ar e afeta a comunidade próxima. Quando a mesma fábrica estimula a economia local, gerando emprego e renda para a população, tal evento diz respeito a uma externalidade positiva.

Referências:

BERNA, Vilmar. Políticas e gestão no rumo da sustentabilidade. Revista Envolverde. São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.envolverde.com.br/?materia=88610&edt=1#>.

MAY, Peter H. Economia do Meio Ambiente: teoria e prática. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

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